quarta-feira, 2 de março de 2011

Do que são feitos os bons e os maus diálogos

 
 Márcio Teixeira, diretor executivo

Dialogar bem é a arte de produzir silêncio íntimo em qualquer situação. Falar é fácil, difícil é fazer. Mas se você não tentar, como conseguir?
Sabemos que se a gente desmontar um problema, olhá-lo com critérios, e deixarmos que a desmontagem do problema faça suas revelações, quando voltarmos ao chamado mundo normal já estaremos diferentes.

Muita gente até pensa em milagres quando estas revelações do inconsciente acontecem.
É disso que vou falar a partir deste tópico.

Primeiro: “todas as conversas difíceis têm uma estrutura comum, quando você se prende a detalhes e à ansiedade de uma conversa tem dificuldade em enxergar essa estrutura”, diz Douglas Stone, um estudioso do assunto.
Já deu para perceber. Uma pessoa ansiosa e ainda por cima muito preocupada com o quanto está certa, com o quanto os outros deveriam ser diferentes do que são, perde contato consigo mesma.
E aí precisamos citar Freud. Nos atendimentos às pessoas que fazia ele ficava num estado de atenção que foi chamado mais tarde de “inconsciente flutuante”, ou algo assim.

É o ato de ouvir sem julgar e sem antecipar qualquer tipo de comentário. Ele percebeu que pensamentos aparentemente secretos emergiam, como que do nada. Por que você acha que certos praticantes de meditação “sacam” coisas? Simplesmente atenção concentrada e focada. E aberta.
Muito bem, todos nós temos essa capacidade. Mas nos perdemos num dos três diálogos que ocorrem em toda conversa. São eles o “diálogo do que aconteceu”, o “diálogo dos sentimentos” e o “diálogo da identidade”.
No primeiro deles é onde as pessoas mais jogam energia fora, perdem foco, cansam os demais, se aborrecem e, pior, com freqüência se arrependem. É a disputa sobre quem está certo, quem está errado, quem teve intenção de fazer o quê, quem é o culpado por isto e aquilo.

“O problema é que os diálogos difíceis não são sobre acertar ou errar fatos, eles giram em torno de percepções, interpretações e valores conflitantes. Não são sobre o que diz um contrato, mas, sim, sobre o que ele significa”, explica Stone no livro já citado.
Minha experiência mostra que, de fato, as pessoas julgam na maior parte das vezes sem nem sequer terminar de ouvir o que o outro tem a dizer.
Isso me lembra de uma experiência vivida no Japão quando eu era executivo de uma importante empresa. Numa mesa de negociações os japoneses sentaram-se de um lado, nós, os brasileiros e americanos no outro lado. Éramos a parte que apresentava um projeto. Cada um cumpriu rigorosamente o tempo combinado. Mas alguma coisa estava estranha e na hora não percebi.

Os japoneses estavam com a palavra. Disseram coisas básicas como o fato de estarem agradecidos pela nossa presença e preocupação, que iriam avaliar nossa proposta. Sorriam a cada palavra, sempre usando aquela mesura de se inclinar para a frente.
Saímos da reunião e fomos a um lugar típico para almoçar. Resumindo a história: eles não prometeram nada, não rasgaram elogios, nada nada nada.

Um dos nossos colegas sentiu que precisava arrancar alguma coisa deles. Foi se empolgando e falou alto por um bom tempo, sempre animado, sempre cavando.
Num certo momento perguntei a eles, em tom de brincadeira, por que falavam tão pouco. Um deles, sempre atento, respondeu: “nossas ideias já conhecemos, precisamos conhecer a de vocês”.

Reflitam um pouco nisso. Até amanhã, grande abraço a todos

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