segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

"A revolução das mídias digitais, que não estamos vivendo"

O artigo a seguir é uma tradução livre tradução do texto "Activism after Clicktivism'', de Micah White, sendo originário do portal www.RH21.com.br

“Há mais de uma década somos vítimas de uma certa letargia frente a tela do computador. Acreditamos nas promessas dos tecnocratas e visionários digitais (como o hype viral do MoveOn e similares) e, com isso, passamos a confiar demais em uma forma de organização através da Internet.
“Somamos voz aos bordões do marketing, entulhamos sites com enfeites em Ajax e utilizamos apps de todos os tipos para mídias sociais. Tudo isso com a fé de que o cliktivismo poderia desencadear uma transformação social.
“Mas o que acontece é que nossa revolução fica cada vez mais a cargo das tecnologias de San Francisco e das novas formas de publicidade. A consequência é o encolhimento de nosso potencial revolucionário, vítima da nossa crescente dependência dos artífices tecnológicos.
“Clicktivismo é o ativismo poluído pela lógica do consumismo. A publicidade e as ciências da computação subjugam, dessa forma, o ativismo. Talvez o que melhor define esse tal de clicktivismo é a obsessão por métricas. Cada link clicado e email aberto é meticulosamente monitorado.
“Para obter maior apelo das massas, os clicktivistas diluem suas mensagens convocando colaboradores para a ações ('call-to-action') fáceis, insignificantes e impotentes.
“Os objetivos da campanha geralmente são focados exclusivamente em inflar o percentual de participação, sem necessariamente derrubar ou enfrentar o status quo. No final, a transformação social é vendida como uma marca de papel higiênico.
“O problema fundamental dessa abordagem tecnocrática é que as métricas medem somente o que é mensurável. O clicktivismo negligencia o que é mais vital para a revolução, como as imensuráveis crises psicológicas internas e epifanias pessoais das quais as grandes rupturas sociais são feitas.
“A história das revoluções atesta que o levante é sempre improvável, imprevisível e arriscado. Logo, alguns pronunciamentos banais sobre "democracia em ação" juntamente com uma petição on-line não darão início a uma transformação social efetiva.
“Como Malcolm Gladwell afirmou recentemente, "ativismo que desafia o status quo, que ataca profundamente a raiz dos problemas - não é para os fracos de coração".
“O clicktivismo incita o receio de se destacar da multidão, de se singularizar e de tomar uma posição marcante, desencorajando, assim, ações mais drásticas. E como tal, o clicktivismo nunca criará uma revolução social de fato. Pensar que o fará é uma falácia que estamos alimentando.
“O legado do clicktivismo está dando um reboot no ativismo como o conhecemos. Está dando início a uma mudança de paradigma na noção de transformação social e abrindo as portas para uma nova geração de ativistas.
“Esse rejuvenescimento é encorajado por três insights táticos:
  • revoluções são frutos de epifanias;
  • a Internet é o melhor instrumento para provocar memewars;
  • as ações ousadas do mundo real são a base indispensável de qualquer mudança social.
“Essa nova geração perdeu a confiança nas discussões vazias dos gurus digitais e seus "10 passos para o sucesso" . Abandonam as métricas, deletam logs de sites e ignoram o analytics. Em seu lugar, a poesia apaixonada recupera a primazia.
“O desafio de provocar epifanias é a nova prioridade revolucionária. Mas isso não significa que devemos fechar inteiramente nossos olhos para o potencial da tecnologia.
“Pelo contrário, a próxima geração de ativistas irá prontamente reconhecer que a Internet desempenha um papel tático crucial. Na batalha pelo sentido, a velocidade de disseminação de bombas semióticas, emboscadas imagéticas e vírus cognitivos são essencialmente estratégicos. Isso é uma memewar.
“Ainda assim, a ação no mundo real é a única forma de realizar alguma revolução social. Clicar em um link nunca será o mesmo que ocupar as ruas.
“Ser um ativista é assustador. Toda transformação social é inicialmente repudiada, afinal, a insurreição sempre começa com a desobediência. Momentos antes da vitória, todo revolucionário sente um frio na espinha. E o clicktivismo nos encoraja a evitar exatamente essas emoções, a nos esconder por trás do mouse e a adotar a inércia do clique passivo.
“O ativismo só irá renascer quando os revolucionários encontrarem força através da intensidade dos protestos e das emoções desencadeadas pela participação em motim”.

Postagens